quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ainda não nos gostamos


Recortes das minhas letras preferidas. A seleção virou uma espécie de carta. Sem destinatários.

Ainda me interesso por qualquer coisa que seja difícil de ser explicada e constrangedora de ser resumida. Mas no mais, você não me conhece mais. Quero dançar com outro par, e não é só pra variar, amor. Tá tudo bem. Eu tô levando tudo de mim que é pra não ter razão pra chorar. Procure dividir-se em alguém, mas não me procure em qualquer confusão. Porque eu quero ver você maior, meu bem. Pra que minha vida siga adiante, afinal. Sabe, saber mudar de tom, eu sei. Mas quero não saber de cor. De qualquer forma, adeus você! É difícil ser feliz mais do que somos todos nós? Esquece. Põe mais um na mesa de jantar, por favor. Hoje eu vou praí te ver, mas tire o som dessa TV, pra gente conversar. Sem ressentimentos. Toma este anel, que é pra anular o céu, o sol e o mar. Até a chuva do céu se encerrará pra ver nosso depois. Que pretensão poética. Pare. Não se atreva. Observe. Nem posso acreditar. Olha ali, quem tá pedindo aprovação. Tente nunca mais tentar viver o cara da TV, aquele, que vence a briga sem suar e ganha aplausos sem querer. Bem feito pra mim e bom pra você. Vai, deixa de lado o que se diz. Tem no mercado, é só pedir! Me faz chorar, e é feito pra rir. Tendo dito, tenho que ser sincera comigo, o amargo é querer-te pra mim. E isso não. Não assim. Eu sei que tanto te soltei que você me quis em todo o lugar. É o segredo, então? Abre a janela agora, e deixa que o sol te veja. É só lembrar que o amor é tão maior. Sim. Mas não. Eu vou ficar são. Mesmo se for só. Não vou ceder? Talvez. E no final? Eu sei que vou ser coroado rei de mim. Catarse. Nem de mim quero ser rei. Ainda bem que sobre estar só, eu sei. Você não é exclusivo. Em ti eu não consigo encontrar um caminho, um motivo, um lugar, pra eu poder repousar meu amor. E eu não quero ser salva. Quero o mar e o sertão! Sem ingratidão, vá lá uma concessão pelo o que foi. Pra nós todo o amor do mundo e pra eles o outro lado. Estive pensando, se eu fosse a primeira a voltar pra mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria? Quantas assustadoras e reconfortantes possibilidades. E melhor, se eu for a primeira a prever e poder desistir do que for dar errado? Esquece de novo. Não sou covarde. Dispenso a previsão. Não tenho certeza, mas se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, devo aceitar a condição. E você? Eu não perderia a glória de chorar. Absolutamente. Pode até ser que o esforço pra lembrar é minha vontade de esquecer. Pode. Pense bem, ou não pense assim! Sem retorno pra mim. Pra nós. Mas não faz disso esse drama essa dor, o único perigo é eu me esconder em você. Ninguém está imune à projeção. Eu me contento em andar, pois acredito que é reconhecer. Guarde um sonho bom pra mim, ta? Quem sabe o que é ter sem querer pra si é capaz de mudar o mundo. Mas não fala do que eu deveria ser pra ser alguém mais feliz. É compreensível que se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade? O que justifica o quê? Sempre me questiono. E renego veementemente os especialistas que analisam e sentenciam sobre isso ou sobre qualquer coisa. Assim que o amor entrou no meio, o meio virou amor. Daí quem se atreve a me dizer do que é feito o samba? O meu bloco tem sem ter e eu vou nessa direção. Lamento. Vai chover de novo, deu na TV. E nem preciso dizer que o povo já se cansou de tanto o céu desabar. Fiquei mal com a constatação. Vem cá, que tá me dando uma vontade de chorar. Seja sincero, me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez? E você se preocupou com a repercussão? Pergunta retórica, evidentemente. Quem foi que te ensinou a rezar? Que santo vai brigar por você? Que povo aprova o que você fez? Apesar da cobrança, não tenho autopiedade, não. Pelo menos eu sinto. Me sinto bem, me sinto mal, mas sinto. Neste momento, e não no anterior e menos ainda no posterior, sinto como se a alegria recolhesse a mão pra não me alcançar. Conselho? Passo sem culpa, pois falar do que foi pra você, não vai me livrar de viver. Já experimentou ler, ver, escutar pra se perder no abismo que é pensar e sentir? Sabe, a foto mais bonita que eu fiz, era aquela de você olhando pra mim. Quanta verdade. Verdade? É difícil aprender do seu jeito. Mas sim, é no não que se descobre de verdade. Me conta. O que te sobra além das coisas casuais? Forte a revelação? Tenha dó, não mereces o afago nem de Deus nem do Diabo. Tá, não vou me exaltar. Desta vez, tudo será sem gritos. Só sussurros. Sem lamentações extras, todo o carnaval tem seu fim... Guardemos as fantasias para os próximos. Ou será que devemos renová-las? Já sei, a minha eu quero mais ousada e colorida. A sua poderia ser menos. Me desconsola perceber que toda escolha é feita por quem acorda já deitado. E como tudo se perpetua. Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado. Eu posso, mas não devo pintar o estandarte de azul pra por suas estrelas no azul. Quero mudança. Se você se pergunta pra quê mudar, não sou mais a pessoa certa pra te esclarecer. Sem querer você passa então a amar, tudo aquilo que não ganhou. Tão previsível, pessoa. Não rezo a Deus no céu, nem a alguém no chão. As desculpas também não cabem aqui, eu tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins. Para os bons não se precisa? Vou pensar. E não simplifique, traições são bem mais sutis.

P.S.: Agradeço aqueles que me emprestaram suas palavras, o que conheço de vocês é apaixonante. Sem pretensões, apenas abstraí a partir delas. E a belíssima ilustração chama-se Por qué cantamos? e é de autoria de Gustavo Aimar. Obrigada também.

2 comentários:

  1. Achei genial, da primeira frase ao PS.

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  2. O texto é bem encaixado. Um desafio, levando-se em conta que se trata de uma reunião de trechos avulsos de letras musicais. E o final é fabuloso. Surreal até. "E não simplifique, traições são bem mais sutis".

    Li o texto sem fôlego. Ele é como uma descida ingrime que nos suga para dentro. Impressiona pela variação dos sentimentos.

    Os questionamentos são impactantes. São perguntas sem respostas objetivas. Ou simplemente explicaveis.

    "Estive pensando, se eu fosse a primeira a voltar pra mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria? Quantas assustadoras e reconfortantes possibilidades. E melhor, se eu for a primeira a prever e poder desistir do que for dar errado? Esquece de novo. Não sou covarde. Dispenso a previsão. Não tenho certeza, mas se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, devo aceitar a condição."

    Muito bom mesmo. E bem inovador. Nunca pensei em criar um texto-carta com trechos de música.

    Gostei também do PS. Bem sutil. Doce. Soa até como um pedido de misericórdia. Um pedido tão lamorioso que não haverá margem para te enquadrarem como uma violação de direitos autorais. hahaha

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