terça-feira, 29 de dezembro de 2009

2009 Assistido


Meu ano foi particular. Muita coisa nova e importante que deveria ter aprendido na Escola, mas muitas vezes o excesso de informação me confundiu. Muita convivência com as pessoas que mais amo, o que torna todas as relações muito delicadas pela intimidade retomada. Pouca política e literatura, e quase o suficiente de cinema e sono.

Baseada na introdução, achei razoável refletir sobre 2009 a partir do que a sétima arte me ensinou. Quero mais Caros Amigos e Érico Veríssimo no futuro.

Não sei tudo sobre a minha mãe. E isso é mais do que saudável, é autopreservação. Apesar disso, retornar em uma jornada para explicar a si mesma o que não se pode explicar a quem mais amava foi um excelente pretexto para recuperar o que valia a pena e abandonar o que merecia ser abandonado.

Fale. Com ele, com ela. A diferença se notará em você. Adquira o hábito de ir à cinemateca ver filmes mudos e se dedique com paixão ao que e a quem ama. Assim, se é olhado com sensibilidade e complacência mesmo quando sob julgamento.

Pode ser neurótica e nervosa a convivência com o outro. Mesmo e, principalmente se este é inteligente e apaixonado. Não trocaria Nova Iorque pela Califórnia, não dirijo mal, não sou dependente da psicanálise, nem de baseado para o sexo e também não preciso de ninguém para me livrar de um aracnídeo. Tá, não sou a Annie. Mas também não sou simples e concordo que perder os letreiros em sueco que antecedem alguma obra-prima do cinema é frustrante. Nossas relações são muito complicadas. Por serem fluidas como a vida, é quase impossível achar o ponto do não retorno à felicidade acompanhada. Até pareceu que daria certo, mas até parece.

O cinema é inebriante. A vida é uma expedição ao Cairo, uma festa de gala na América. O importante é ser diferente da vida vivida. A lenda de uma rosa púrpura é fabulosamente atraente diante da depressão do país e dos maus tratos sofridos em casa. Mas quem ficaria com o personagem perfeito e desistiria do ator promissor? A realidade cheia de imperfeições se impõe, apesar disso sempre haverá o cinema. Expressão de alívio.

A miséria, sob qualquer manifestação, é de fazer chorar, pensar e chorar de novo. Durante um trajeto de carro ou pela vida toda. Quando mesmo começamos a agir? Quando o Pau Brasil for lenda? Repressão sexual, expressão sexual, violência sexual. Tudo misturado. Marido passivo que sonha em se travestir. Mulher infiel. Filho envergonhado. Homem repugnante. Filha e mulher alienadas. Filha revoltada e abusada. Filha adotada e sem pudor. Crianças mortas. Homem morto, mas podre em vida. Homem morto e preso. Filha freira, reprimida e alienada. Filha fugitiva e de futuro como o presente. Mulheres no mundo, o que pode ser quase fácil ou a única saída. Experiência intensa. Queria poder evitar o começo.

P.S.: A imagem é o que eu consigo desenhar no Paint sobre o tema. E de longe, meu pai gostou e até a nomeou. Estou feliz com a caricatura copiada.

Um comentário:

  1. Essa imagem me lembra os rabiscos de Graciliano Ramos. Os desenhos que ilustram os seus livros. Inigualáveis pela simplicidade.

    Em um breve instante, revivi a angústia de São Bernardo. A angústia de Vidas Secas. A angústia da própria Angústia. E a angústia da Infância. Como foi prazeroso!

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