quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Relato de uma boca delatora


Corromperam a minha praça. O Tráfico de drogas se enraizou nos jardins da praça da 21. Ela se transformou em um monstro de indefinidas cabeças e pouco mais que quatro bocas. Palmas perdeu o seu cartão postal. O consumo de ervas, agora, rola solto, e a solta. São quatro bocas fornecedoras e outras tantas bocas usuárias.


O cheiro doce da folha queimando causa náusea até aos estômagos mais resistentes. Quando visito o local, sinto fortes alucinações e posso até supor que também fumei o cachimbo da paz.

A fumaça excede o perímetro da praça. As nuvens de fumaça recobrem nebulosamente a paisagem. Os carros trafegam na rua de farol alto. Os casais que iam para o estacionamento da praça para copularem dentro do carro e economizar o dinheiro do motel já nem aparecem mais por lá. O cotidiano amoroso da praça foi prejudicado pela vida rastafári.

Além disso, o consumo de drogas alimenta os piolhos de Bob Marley. Lá se transformou no reduto do Reggae Jamaicano no Brasil, depois de São Luis. "Three Little Birds" é entoada por vozes descompassadas, inteiramente embebidas na paz, no amor e nas folhas de coca queimando.

O crucifixo azul da igreja ao lado irradia benção aos invasores da minha praça. O azul do crucifixo contrasta com os pequenos focos vermelhos das chamas. A tranquilidade da praça é consumida pelo ambiente tumultuado da fornalha.

O vento agita as folhas de pinheiro, e elas mexem, voam, tentam fugir da cena das suas irmãs sendo queimadas na forma de folhas de papel de celulose. Além disso, na alucinação do momento e na falta de maconha, qualquer folha verde serve para uma boa tragada. No fundo, as folhas de pinheiro sentem que também estão no cardápio.

PS: Texto escrito por uma boca delatora, a correspondente desse blog em Palmas - Tocantins.

PS²: Imagem de Milla Scramignon - Quente

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