quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Alegria - Cirque du Soleil


Assistam ao dvd da apresentação do Cirque du Soleil intitulada Alegria. Loquei-o casualmente, não supunha que era tão bom. Assisti pelo menos oito vezes ao dvd. Decorei a letra das músicas, anotei o nome de artistas, ensaiei a coreografia, imitei a encenação dos palhaços. Meu avô não suportava mais ouvir as músicas daquela peça, muito mais um teatro, um show, do que um circo convencional.

Alegria é diferente. Pensou-se no macro, o enredo fica em primeiro plano. Os artistas não são propriamente o destaque. Até os palhaços, tradicionalmente escrachados, possuem uma densidade psicológica. Flying Man é o meu número favorito.

Alegria mistura o lúdico e o real. Os personagens disputam o poder. O bobo da corte sente-se soberano. Por vezes pragueja durante as apresentações, como a do Russians Bars. As comadres bisbilhotam e invejam os outros habitantes. As ninfas vivem despropositadamente. Embarcamos em um reino de limites de sonhos sem limites. Não há convite. A platéia é tragada pelo ambiente envolvente do espetáculo.




Executado com expressiva maestria, o trapézio é o nosso primeiro contato com o ar. Trata-se de um romance que nos faz voar, seja pelas piruetas, seja pelo afeto envolvente das personagens. A música possui um teor dramático. Supus que alguém morreria nos moldes sheakespeareanos. Na minha mente, a trapezista cairia e sua cabeça partir-se-ia em quatro fatias de mamão, com as sementes quicando ensanguentadas em direção da platéia. Contudo a corda de segurança proporciona uma descida tranquila no final da apresentação, o momento oportuno para uma grande tragédia. A minha obsessão por dramas resvalou na rigidez do ensaio e na perfeição do espetáculo.

Power Track Act é o número mais entusiasmante. A performance das ninfas contagia pela perfeição das suas formas e gestos. A coreografia sincronizada empolga. A trilha sonora pulsa alegre na platéia vibrante. Singela a participação do Tamir adulto protegendo o público no final do corredor de elástico. Na outra ponta, um anjo do Russian Bars executa a mesma função. A comadre arranca gritos assustados das primeiras fileiras ao encenar uma queda. São detalhes bem pensados de um resultado encantador.

A apresentação do palhaço tempera a noite com doses pré estipuladas de nostalgia. A essência humana é dessecada. O domínio das expressões faciais é impactante. Arrepia. E faz chorar. A solidão é desvendada com muita propriedade por um palhaço, uma figura naturalmente solitária. A platéia assiste pasmada, atingida por respingos de abandono. Apenas os aplausos quebram com a frieza da tempestade de neve recém encenada. Somos aquecidos novamente pela realidade.

Flying Man desafia a nossa percepção de espaço. O figurino dá dinâmica aos movimentos do artista. A trilha sonora proporciona bem estar em tal medida que somos impelidos a soluçar lágrimas. O público sequer é capaz de bater palmas de tão impressionado que está. Flutuamos com o nosso desejo de voar. Por alguns minutos, voamos em sonhos. É fabuloso, simplesmente.

Impulsionado pelo entusiasmo que Alegria despertou em mim, loquei outras duas apresentações do circo, Varekai e Dralion, e redescobri o óbvio: Alegria é o melhor deles. Assistam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário