quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Vivi o eros de Wong Kar-Wai




Numa aula de sueco quase tudo é grito, mesmo que ritmado. Mas não em mim. Só sussurros me acometiam.

Sentávamos lado a lado. A mão de um encontrou a mão do outro. E elas fizeram uma coreografia. Frenética. Delicada. Com e sem direção. Palma no dorso. Palma na palma. Dedos na palma. Dedos nos dedos. Dedos no dorso. Dorso no dorso. E a cada novo gesto mais dependentes as mãos ficavam da consistência e da delicadeza do momento. As partes não se deixavam subjugar pelos valores e vontades dos que a comandavam até então. Não. Sentiam-se autônomas no desejo.

Só alguns minutos transcorreram. Como alguns minutos transcorreriam e transcorrerão. A falta da eternidade parcial e seletiva é a condição para nos livrarmos da outra, total e opressora. Portanto, aceito a efemeridade disto.

Omito o resto da história por ser chata, como a vida e como muitos bons filmes. É certo que não acabou num café intimista, com trilha sonora moderninha, e iluminação indireta.

Mas viajamos com destino, nunca fomos urgentes um ao outro e hoje mantemos uma distância confortável. Sem ilusões desconfortáveis. Nada superará a intimidade subversiva que imaginamos para nós.

Nem mais falamos a mesma língua. Bergman tem legenda. É o que me basta.

P.S.: Kevinandersson (tudo junto?) - It's like chocolate (guardadas as devidas proporções!).

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